Pedaço de morte...
Morri em eco, desdobrada. Morri como um sem-abrigo no caminho para o meu útero, morri porque o meu corpo decidiu gerar uma vida nova e se enganou. Percebi que a morte abria as comportas do meu sangue, mas só no fim desse rio vermelho percei que levava comigo um filho impossível. A primeira sensação que exprimentei, depois de ter desmaiado de dor, foi um intenso perfume de bébé, um perfume quente e azedo de leite bolçado. O balouço de Deus apanhou-me de repente, num rasgão de luz, e sentado no meu colo estava uma espécie de bébé minúscul, quase só um sorriso de bébé que parecia ter saído directamente do meu ventre para o meu colo. Uma semente, uma pedra, uma coisa quente esvaiando-se de felicidade, arrancando-me a dor. (...)
In, "Fazes-me falta " de Inês Pedrosa
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