Cartola.

"O pensamento transforma as pessoas."
Ainda te oiço. Ainda te sinto a apertar-me os braços, ainda sinto as minhas mãos nas tuas costas, apertando-as, apertando-te contra mim. Ainda sinto a tua pele por entre os meus dedos, aquecida pelos nossos beijos, pelo nosso olhar. Ainda resguardo a minha cabeça entre o teu pescoço e os teus ombros entre o meu olhar e as tuas costas.
Era uma entrega total, assustadora. Descobria-te a cada minuto, amava-te em cada beijo inocente, em cada beijo sensual e em cada beijo de prazer seguido de dentadas nos lábios e abraços intermináveis. E em todos os beijos eu te amava. Em cada respiração tua eu suspirava-te. Cada vez que a tua voz entrava em mim e velozmente me chegava ao corpo todo e me fazia tremer... eu fechava os olhos e amava-te de novo.
Procuro-me. Sei que ando perdida algures num sítio onde me fui procurar e acabei por me perder a dobrar. Perdi a paixão, perdi o amor... perdi o meu olhar e perdi-me a mim, integralmente.
Sinto os lábios a esfriar, sinto os ossos a fraquejar e a alma a derramar-se na calçada fria enquanto caminho sem destino. Sinto tudo e não sinto nada. Sou um vazio interminável cheio de nadas...
Sou um corpo, uma respiração... e sou um olhar vidrado. Sou a falta de um abraço, sou lágrimas secas e estáticas... e não sou nada. Não sou aquilo que sou, mas sim aquilo que me tornei. Não sou grito, não sou melodia, não sou dor nem prazer: eu não sou ninguém.