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I

Senti de repente um vazio por baixo dos pés.. Uma corrente enorme a passar por entre os meus pensamentos. Não conseguii chorar, não consegui sentir, só aqueles segundos intermináveis,só um flash intermitente que me provocavam várias picadas nos olhos. Desfiz-me por entre as pedras de calçada, desfiz o meu corpo, pintei todo aquele chão com uma maré de pensamentos encarnados. Ainda tive tempo de abrir os olhos e despedir-me daquele mundo. Parece que tudo se concentrou naqueles segundos... Agora sinto uma mão a puxar-me pelo peito e a levar-me... Parece que tudo simplesmente se explodiu dentro de mim... agora guardo a imagem lenta do meu “eu” a terminar ali mesmo... Oiço os gritos graves de um violino a penetrarem pelo pedaço de alma que ficou caído no chão, desprezado, morto. Um pouco do meu pensamento volta mais atrás, onde ainda choravam vozes e onde alguns olhares ficaram perdidos por aí, numa rua qualquer, com uma calçada cinzenta e irregular com cigarros mal apagados a chamar a atenção... por entre umas paredes velhas, destruídas.. Nuns candeeiros de luz suja, num céu a apagar-se e a transportar tudo para outro crepúsculo...