sexta-feira, janeiro 27, 2006
Apetece-me
Apetece-me acender as mãos, apertá-las, e aos ombros.
Apetece-me morder os lábios.
Apetece-me gritar silenciosamente ( porque o silêncio, diz muito) .
Apetece-me sussurrar, parar de me mexer, começar a mexer-me.
Apetece-me precisar de algo.
Apetece-me não querer saber de nada.
Apetece-me perder(-te) e encontrar(-te) de novo.
Apetece-me desligar a música, deitar-me, e dormir (talvez sonhar) ... até que me apeteça.
Raquel.
terça-feira, janeiro 24, 2006
Dois homens não vêem uma mesa da mesma maneira; mas ambos entendem a palavra «mesa» da mesma maneira. Só querendo visualizar uma coisa é que divergirão; isso, porém, não é a ideia abstracta da mesa.
Fernando Pessoa, in 'Ricardo Reis - Prosa'
domingo, janeiro 15, 2006
Eu
Sou-o embrulhada num líquido denso, mordendo os lábios vermelhos acinzentados, enganando a língua que parece colada ao céu da boca ... bloqueando todas as palavras, engolindo-as mais uma vez. Humedeço esta melancoolia breve e intensa e, de olhos fechados, consigo ingeri-la.
Sou eu.
Sou-o com medo, com alguma arrogância, com alguma demência.
Sou-o com alguma respiração irregular, algumas veias salientes nas mãos, alguns fechares de olhos sombriamente assustadores.
Sou-o sem nunca medir nem preferir nenhum pedaço meu ao outro, nem odiá-los sequer.
Sou-o, por vezes, meio morta: nunca tive gládios nem lenha para acender fogueiras e começar batalhas, mas o meu peito sempre flamejou.
Senti falta de magnificência, sempre me exigi coisas antitéticas, impossíveis... e sempre sorri estupidamente quando me apercebia destes meus desejos dissemelhantes;mas continuo a desejá-los.
Eu sou a cera quente a derreter-se sobre forma de gota sobre a pedra, sou o redondo a ficar quadrado, e depois, novamente redondo...
Eu remeto-me para chocolate quente salpicado de sal fino.
Eu grito interiormente, sonho Primaveras cinzentas, bancos de madeira pseudo-desfeitos.
Eu entretenho-me, mas não me completo. Eu choro e o som desse choro é o meu próprio sorriso.
Eu repudio-me, subjugo as minhas palavras à queda, ao vazio.
Eu suspiro ao mesmo tempo e o mesmo ar que expiro.
Eu vivo num compasso estranho, mas vivo.
Quem serei, não me interessa.
Raquel
sexta-feira, janeiro 13, 2006
Ainda..
Ainda te oiço. Ainda te sinto a apertar-me os braços, ainda sinto as minhas mãos nas tuas costas, apertando-as, apertando-te contra mim. Ainda sinto a tua pele por entre os meus dedos, aquecida pelos nossos beijos, pelo nosso olhar. Ainda resguardo a minha cabeça entre o teu pescoço e os teus ombros entre o meu olhar e as tuas costas.
Era uma entrega total, assustadora. Descobria-te a cada minuto, amava-te em cada beijo inocente, em cada beijo sensual e em cada beijo de prazer seguido de dentadas nos lábios e abraços intermináveis. E em todos os beijos eu te amava. Em cada respiração tua eu suspirava-te. Cada vez que a tua voz entrava em mim e velozmente me chegava ao corpo todo e me fazia tremer... eu fechava os olhos e amava-te de novo.